Seja bem vindo! (a)

"Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina" Cora Coralina.

quinta-feira, 29 de março de 2012

Depressão pós-parto


Fatores biológicos, psicológicos e emocionais

Sabia que a depressão pós-parto afeta a 10-20% das mulheres? E que esta doença pode começar após a primeira semana de parto e durar até dois anos? A psicóloga Mariagrazia Marini Luwisch fala-nos melhor do assunto. Saiba em que consiste esta doença, os sintomas e como devemos aborda-la.

Segundo estudos científicos as mulheres têm uma probabilidade duas vezes maior de terem depressão principalmente durante a vida reprodutiva e nos períodos de oscilações hormonais como o pré-menstrual, o pós-parto e a perimenopausa – período ao redor da menopausa, caracterizado pelas oscilações dos níveis hormonais e sintomas físicos e psíquicos como ondas de calor, insónia, tristeza e irritabilidade.
A depressão pós-parto (DPP) é um quadro clínico que pode surgir nas mulheres na fase puerperal, normalmente nas quatro semanas após o parto e se caracteriza pela presença de um conjunto de sintomas que prejudicam a relação mãe-bebé. Atinge entre 10 a 20 % das mulheres quando iniciam a relação com os seus filhos recém-nascidos, podendo começar na primeira semana após o parto e durar até 2 anos e apresentam choro, irritabilidade, cansaço e abatimento.
Dentre os sintomas mais comuns temos destacam-se: humor depressivo com profunda tristeza, um sentimento de vazio, ausência de prazer nas atividades diárias, fadiga, instabilidade emocional e irritabilidade, alterações da concentração e do pensamento, sentimentos e ideias suicidas. Dentre os eventuais transtornos emocionais do pós-parto podem ser enfatizados: melancolia da maternidade (baby blues), depressão pós parto e psicose puerperal.
A melancolia da maternidade (baby blues), aparece em algumas mulheres, em torno do terceiro dia após o parto e se caracteriza por um estado de fragilidade e hiperemotividade. O choro e a tristeza são acompanhados por sentimentos de falta de confiança e incapacidade para cuidar do bebé. Corresponde a uma etapa de reconhecimento mútuo entre a mãe e o bebé. É o tempo necessário para a mãe compreender que o bebé é um ser separado dela e marca o fim da gravidez psíquica.
A depressão pós-parto ocorre após umas duas semanas quando os sentimentos depressivos persistem. É uma manifestação psicopatológica importante que incide em 10 a 15% das mulheres na fase puerperal e desencadeia um quadro depressivo durante os três primeiros meses após o parto e, geralmente, manifestam-se sentimentos de incapacidade de cuidar do filho e dificuldades para enfrentar a nova configuração sociofamiliar. A sintomatologia típica inclui: sentimentos de culpa, transtornos do sono, flutuações de humor com grande tendência a tristeza e ausência de sintomas psicóticos.
A psicose puerperal é uma síndrome com características de depressão, delírios e pensamentos da mãe sobre ferir o bebé ou a si mesma. Nos casos mais graves ocorrem inclusive fantasias homicidas em relação à criança, as quais, em situação extrema, podem chegar ao infanticídio.
A psicose puerperal incide em 0,1% a 0,2% das mulheres na fase puerperal. Assemelha-se à depressão pós parto, porém faz com que a mulher desenvolva uma certa tendência à agressividade, principalmente em relação à criança. A mãe pode manter delírios de perseguição, medo excessivo de magoar o bebé e sentimentos de estar a enlouquecer. Surge normalmente no primeiro período pós-parto de uma mulher, com duração variável de semanas a meses. A mulher sofre confusão mental, alucinações e mudanças rápidas de humor, passando da euforia para a depressão, podendo chegar a ser bastante agressiva com o filho e cogitar a possibilidade de infanticídio, ou seja, de matar ou facilitar a morte do próprio filho recém-nascido.
Enquanto a depressão pós-parto gera uma sensação de desleixo e apatia, levando a mãe a não ter vontade de cuidar de si e muito menos da criança, a psicose puerperal mantém efeitos que podem se tornar gravíssimos, caso não seja diagnosticada e tratada precocemente.
A mãe portadora deste distúrbio mantém um estado de delírio permanente. Os cuidados com a criança devem ser feitos por alguém da família, que possa estar presente. O marido deve ter atenção redobrada à esposa e estar sempre atento.
A presença de conflitos emocionais está associada a fatores fisiológicos e emocionais e à situações de vida da mulher, como stress , dificuldades entre o casal, pouco suporte familiar , gravidez indesejada, etc. Do ponto de vista psicodinâmico, o nascimento da criança representa o rompimento da relação simbiótica entre o bebé e a mãe. Este processo de separação pode desencadear na mãe vivências depressivas e psicóticas, reativadas por conflitos e lutos mal elaborados da infância. Nesse momento a mãe precisa desenvolver um vínculo afetivo, que lhe permitirá identificar-se com a criança, colocando-se no lugar dela e imaginando as necessidades da criança. O parto envolve a separação de dois organismos que estavam vivendo juntos em uma relação simbiótica de total dependência e permanente contato íntimo.
Ao nascer, a criança encarrega-se de uma variedade de funções fisiológicas que até então eram cumpridas pela mãe, como a respiração, a alimentação e outras. A mãe, que se adaptara ao estado de gravidez e incorporara o feto no seu esquema corporal, deverá passar por um novo processo de ajustamento, retornando a situação de não-gravidez.
No momento do parto há na mulher um sentimento de perda e de esvaziamento de partes importantes de si mesma e medo do desconhecido. Já a etapa do puerpério é caracterizada pela dualidade entre a situação do perdido, gravidez, e do adquirido, o bebé.
O conflito edipiano materno é ativado com o nascimento do bebé. Neste sentido, a maternidade é compreendida como um resgate e conquista da identidade feminina, sendo o bebé considerado um representante do falo paterno. Quando a mãe dá à luz uma criança do sexo feminino, revive sua história em relação à própria mãe de forma mais intensa, ocorrendo sentimentos ambivalentes, resultantes das dificuldades da elaboração da própria identidade feminina materna.
A perspetiva psicanalítica sugere que após o parto a mulher tem de realizar o luto de uma série de experiências presentes, nomeadamente o luto do filho imaginário, ideal (expectativas) e experiências passadas, como luto de anteriores experiências de separação com a mãe, ela identifica-se com o bebé e revive através dele a relação com a mãe.
Na psicose e na depressão pós-parto a identidade materna é difusa e enfraquecida, devido a dificuldades e conflitos vividos em sua experiência anterior com a própria mãe. A DPP é um sinal de que a mãe não está a realizar convenientemente o trabalho psicológico do pós parto, que consiste em aceitar que o seu filho não é tão especial como imaginou, tarefa que pode ser dificultada quando as expectativas da mãe são quebradas (ex.: sexo, temperamento do bebé, aparência física).
 
Principais fatores de risco:
- Pessoas com histórico pessoal ou familiar de transtorno bipolar do humor.
- Episódio prévio de psicose (por exemplo em uma gestação anterior).
- Ser primípara (primeiro filho).
- Pessoas com histórico pessoal ou familiar de transtorno bipolar do humor.
- Episódio prévio de psicose (por exemplo em uma gestação anterior).
- Ser primípara (primeiro filho).
 
Tratamento:
É diferenciado e individualizado de acordo com a gravidade clínica. A pessoa que sofre com essa depressão, geralmente está indecisa, pelo que alguém da família tem que tomar decisões, inclusive para começar o tratamento.
A primeira opção é a prevenção. É preciso oferecer educação, psicoterapia de apoio e até medicação quando bem indicada e orientada. Qualquer tratamento deve envolver equipe multidisciplinar, com o obstetra, o psiquiatra e o psicólogo. O enfoque é sempre biopsicossocial, como em todos os transtornos mentais. Pais e familiares devem também ser orientados. Nunca devemos nos esquecer dos aspetos da vida do casal e das próprias expectativas de mudanças da vida social que podem intimidar ou assustar algumas futuras mães.
 
Resumindo:
- Antidepressivos: Muitos deles podem ser dados durante a gravidez e a amamentação.
- Psicoterapia: A Depressão afeta a pessoa como um todo. Fatores da vida da mulher que podem provocar, piorar ou perpetuar a depressão. A culpa por estar deprimida, por se achar incapaz de cuidar do bebé, por não conseguir se sentir feliz podem ser tratadas numa psicoterapia, enquanto que a medicação trata o metabolismo cerebral.
- Tempo para começar a melhorar: quase todos os Antidepressivos precisam de 2 a 6 semanas a agir. Não desista do tratamento se não melhorar nos primeiros dias.
- Yoga, meditação, relaxamento, exercício físico, ajudam.
- Diminuir álcool e cafeína (café, chá preto, refrigerantes).
 
Conclusão:
A depressão pós parto deve ser tratada, e, mais do que isso, exige apoio integral da família, especialmente do marido que deve dar atenção redobrada e ter uma dose grande de compreensão. Embora tenha um bom prognóstico, não deve ser descuidada pois poderá agravar-se e prejudicar a vida da mulher e de sua família.
 
Texto: Mariagrazia Marini Luwisch, psicóloga Psico Online

Nenhum comentário: